terça-feira, 8 de outubro de 2013

M.L.M.

Eu nasci no dia 08/01/85, na cidade de Arvorezinha.
Minha mãe é uma pessoa trabalhadora e muito sofrida, ela passou por muitos problemas com meu pai a ponto de chegarem a se separar, eu digo separação por que eles não se casaram no civil e nem na igreja, mas moraram juntos por 25 anos.
 Minha mãe desde nova só trabalhou, juntos ela e meu pai construíram uma linda casa de dois pisos, tínhamos tudo, mas não éramos felizes. O dia em que minha mãe separou de meu pai, ela ligou para minha tia que morava na cidade de Guaporé, como em Arvorezinha não tinha muito emprego, minha mãe pediu para essa minha tia de Guaporé arrumar serviço para ela, podia ser em qualquer empresa, desde que ela conseguisse arrumar um emprego. Minha tia sabendo da situação disse para minha mãe vir a Guaporé, falou que até conseguir uma casa para morar e um emprego ela poderia ficar na casa dela. Assim, minha mãe, sem perder tempo, saiu da cidade de Arvorezinha com apenas uma sacola de roupa e com cinco filhos, a mais velha, minha irmã I., tinha 15 anos, o A. tinha 13, o A. 12 anos, eu estava com seis anos e minha irmã mais nov, a M. com  apenas um ano.
Chegando à cidade de Guaporé minha mãe logo arrumou emprego, ficamos uma semana na casa da minha tia, logo conseguimos alugar uma casa. Minha mãe conseguiu emprego em uma fábrica de calçados e, como minha irmã mais velha tinha idade para trabalhar, arrumou emprego na mesmo fábrica, assim com o salário delas conseguíamos fazer rancho e pagar o aluguel.
Com o tempo tivemos que alugar uma casa mais velha, tinha um quarto e uma cozinha, nessa época começamos  a passas necessidades.
Minha mãe mandou buscar a mudança, meu pai mandou só uma cama de casal, um colchão, um fogão a gás, uma pia e uma mesa. Minha mãe não se conformou, pois ela comprou todos os móveis e como meu pai só tinha mandado isso, ela esperou receber o primeiro pagamento e ligou para minha tia que morava em Arvorezinha para pedir para ela por que ele não mandou o resto dos móveis, foi então que minha mãe ficou sabendo que meu pai vendeu a casa e o resto dos móveis e não tinha dado  a parte dela. Para piorar a situação, ela ficou sabendo que meu pai só estava esperando minha mãe ir embora para assumir o caso com a outra mulher. Minha mãe sofreu muito!
 Eu era muito apegada ao  meu pai e minha irmãzinha mais ainda, ela ficou muito doente e até hoje ela ficou com traumas e depressão por causa disso.
 A casa que minha mãe alugou não tinha luz, nem água, o banheiro tínhamos que  dividir com os outros moradores das peças que a mulher alugava, naquela época chamavam patente, no quarto não tinha assoalho era chão e na cozinha tinha um assoalho velho que estava estragado, sofremos muito.
 Um dia no bairro onde morávamos, estava passando um homem convidando os moradores para irem à igreja, ia acontecer um grande culto naquele dia. Minha mãe foi naquela igreja e naquela reunião as pessoas cantavam felizes, o homem leu um ensinamento da bíblia, no final ele fez o convite de quem gostaria de aceitar a Jesus, minha mãe logo aceitou e decidiu se batizar, ela disse se Jesus me ajudar e eu conseguir um lugar bom para morar, nunca mais eu vou me afastar dele.
Desde aquele dia o Pastor começou a ajudar nós, ele arrumou até uma casa melhor para vivermos. Minha mãe foi a Arvorezinha pedir pro meu pai a parte dela, ele veio a Guaporé e comprou uma casa pra nós, mas depois ele nunca quis ajudar nem quis mais nos visitar. Dai minha mãe saiu da fabrica de calçados e foi trabalhar em um hotel da cidade, enquanto isso, eu na parte da manhã ia à uma escola que se chamava Lar das Crianças, e a tarde em uma outra escola. Eu era muito revoltado, minha mãe não tinha tempo nem de me dar uma palavra de carinho, quando chegava Natal, Páscoa eu comia só os  doce que eu ganhava, saia cedo pedir nas casas dos ricos, no entanto, o dia mais triste para mim, era o dia dos pais.
Lembro que na escola, fazíamos trabalhos para os pais e eu nunca entreguei, por que ele não vinha me ver, somente com 12 anos de idade fui ver meu pai, mas ele só me fazia trabalhar, tinha que caminhar 10 km a pé com um saco de batata doce, saia da colônia onde ele morava e ia até a cidade vender, para dar o dinheiro para ele, assim eram as minhas férias.
Nunca ganhei uma palavra de carinho, dos meus pais. Na escola onde eu estudava, eu não sabia amar, estudava na escola Alexandre Bacchi e ali eu ficava envergonhada, triste, nunca tive lápis de cor, então eu me perguntava por que meus colegas tinham o material completo e eu não tinha nada, só tinha se eu roubasse, nunca teve nenhuma campanha para ajudar crianças pobres na escola, hoje em dia acho que tem, mas naquela época não tinha.
Eu ia à escola só pra brigar, criamos um grupo de gurias onde eu era a líder, neste grupo não podíamos apanhar, era um acordo, se apanhasse do outro grupo, apanhava também do nosso, nessa época eu não escutava ninguém, não respeitava nem a diretora da escola, mas por outro lado quando eu me dedicava à fazer algo, fazia com amor.
Nossa escola era a mais pobre, lembro que uma vez tivemos um campeonato de futsal municipal onde todas as escolas participaram, futsal feminino e masculino, eu era a capitã do nosso time e o nosso professor e treinador era o Chiquinho, ele sempre nos ensinava que tínhamos que vencer o medo para alcançar os nossos objetivos.
Enfim, o campeonato foi na escola adversária, na escola Frei Caneca. Quando chegamos lá os times que íamos enfrentar riam de nós, chamavam-nos de faveladas, mas a gente não se importava, queríamos mesmo era ganhar o prêmio, por que o nosso querido professor Chiquinho e a professora Maribel acreditavam em nós. Lembro os times de futebol masculino da nossa própria escola diziam que nós íamos envergonhar eles, isso nos dava mais força de seguir em frente. Passaram algumas  horas e os pisá da nossa escola foram desclassificados. O jogo feminino começou com Bandeirante e Scalabrini, quem venceu foi a escola Bandeirante. Depois jogou o Bandeirante contra o Frei Caneca, o vencedor ia jogar contra o nosso time.
Lembro que quando o time do Frei Caneca entrou em campo, dizendo que seria fácil ganhar da escola Bandeirante, também disseram que nós, as pobretonas, íamos sair dali corridas e com muita vergonha, enfim elas jogaram e venceram o Bandeirante de três x zero. Quando entramos em campo olhei para arquibancada, o nosso professor estava lá e fez sinal de positivo para mim, pensei que não podia decepcioná-lo. Elas jogavam muito bem, mas todos apostavam na nossa derrota, no entanto surpreendemos, entramos, jogamos e ganhamos de cinco x zero. O colégio mais pobre foi o vencedor. A partir daquele dia comecei a sonha em ser jogadora de futebol.
Mas mudando de assunto. Minha irmã mais velha foi mãe solteira, passaram-se três anos e ela engravidou de novo e o namorado a abandonou.
Houve um tempo em que minha tia que mora na cidade de Gramado  ganhou nenê e pediu para minha mãe ir trabalhar no lugar dela até que acabasse a sua licença maternidade. Minha mãe foi e eu fiquei.
Nesa época eu apanhava muito do meu irmão e minha mãe não estava ali para me apoiar, então decidi sair de casa, assim caí no mundo, conheci as drogas, roubava para sustentar meu vício, chorava muito, sem o colo de um pai e uma mãe, isso me dava mais vontade de usar maconha e cocaína, mas quando você começa com um vicio, você acha que não tem nada a perder e quer experimentar tudo.
Com o tempo acabai caindo na prostituição, bebia dia e noite e via o meu sonho morrendo a cada dia. Via amigos morrerem no vicio, amigos se infectando com AIDS, mas só o que eu pensava era que  ninguém me dava bola.
Com 20 anos engravidei, sofri sozinha, longe, até que me lembrei da igreja, da minha mãe, e de Jesus, assim voltei para a igreja, local onde quero ficar até o dia que Deus me recolher.
 Hoje sou muito feliz. Sou casada, tenho dois filhas a T. e a T., procuro ajudar elas em tudo, tudo que sempre sonhei em ter de meus pais, perdoei meus pais e não tenho rancor, hoje sirvo a Deus, pois sem ele eu não sou ninguém, foi ele que me curou da depressão, me livrou das drogas do álcool, da prostituição, assim não tenho palavras para agradecer a Deus.
Gostaria de finalizar a minha história pedindo aos professores que não deixem de fazer palestras, acreditar nos alunos, dar palavras de carinho, por que isso é muito importante para eles, eu sei bem isso.
Essa historia é só um pequeno resumo do que passei, gostaria de poder falar tudo, mas espero que sirva pra vocês verem o que Jesus pode fazer na vida de uma pessoa.
  Eu sou M. L. de M., hoje tenho 28 anos.
OBRIGADA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário